O dilema dos publishers no novo cenário de consumo de conteúdo

O dilema dos publishers no novo cenário de consumo de conteúdo

Entenda como os publishers enfrentam o novo consumo de conteúdo digital e o impacto das plataformas.

Quim Pierotto06/08/2025
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Nos últimos anos, a relação entre publishers e audiência passou por uma mutação radical.

O que antes era um fluxo direto entre quem produzia e quem consumia, agora é mediado por algoritmos, plataformas e formatos que desafiam os modelos tradicionais de distribuição e monetização de conteúdo.

Essa transição criou um dilema que não tem resposta fácil: como continuar relevante, rentável e presente num cenário em que o conteúdo virou commodity e a atenção é escassa?

A desintermediação que virou reintermediação

Lá atrás, a promessa da internet era libertadora: permitir que qualquer publisher se conectasse diretamente com seu público, sem depender de intermediários.

Mas o que aconteceu foi o contrário.

Hoje, a maior parte do tráfego vem de Google, redes sociais e agregadores de conteúdo.

Plataformas que não apenas controlam a distribuição, mas também ditam o que deve ser publicado, quando e em qual formato.

Os algoritmos passaram a definir o que é relevante.

Isso colocou os publishers em um jogo de tudo ou nada onde, para performar, é preciso adaptar conteúdo, linguagem, tempo e formato à lógica das plataformas.

E isso quase sempre significa perder profundidade, identidade e autonomia.

A monetização em xeque

Outro ponto crítico do dilema é a fragilidade do modelo de monetização. CPMs cada vez mais baixos, bloqueadores de anúncios, queda na venda direta de mídia, saturação do branded content e, mais recentemente, a queda abrupta no tráfego orgânico, causada por mudanças nos algoritmos do Google e pela priorização de conteúdo gerado por IA.

Um estudo do Chartbeat mostrou que, em 2024, o tráfego orgânico para grandes veículos caiu entre 25% e 40% em relação ao ano anterior.

O “tráfego de oportunidade”, que antes vinha de buscas específicas, hoje é absorvido por respostas instantâneas nas próprias páginas do Google, sem gerar clique para o publisher.

O conteúdo virou isca. A resposta virou o destino final.

As redes sociais não são mais a salvação

Se antes os publishers olhavam para as redes como aliadas na distribuição, agora o jogo virou.

O Facebook, que já foi responsável por até 40% do tráfego de veículos, hoje praticamente matou o alcance orgânico de links em favor de reels, vídeos nativos e conteúdos que não tiram o usuário da plataforma.

Já o TikTok criou um novo tipo de consumo: o de conteúdo sem origem clara.

Vídeos informativos, resumos de notícias e análises que muitas vezes vêm de publishers, mas são entregues de forma descontextualizada, por criadores independentes ou bots de conteúdo.

Quem produz o conteúdo original quase nunca é quem captura a atenção, e muito menos a receita.

O dilema da identidade versus alcance

Para se adaptar às novas lógicas, muitos publishers passaram a moldar seu conteúdo aos formatos virais.

Headlines sensacionalistas, vídeos rápidos, linguagem informal e foco no trending topic da vez.

Mas isso cobra um preço: a perda da identidade editorial.

O dilema é simples de entender, mas difícil de resolver: ou o publisher se adapta ao que a plataforma exige, ou perde alcance e receita.

Só que ao se adaptar, muitas vezes ele dilui sua proposta de valor até virar mais um no mar do conteúdo raso e rápido.

Para onde os publishers podem ir?

Alguns caminhos estão sendo testados, nenhum deles é solução definitiva, mas representam tentativas válidas de reconexão com o público:

  • Modelos de assinatura e clubes de membros, como o The New York Times ou o Intercept Brasil
  • Conteúdo proprietário em newsletters e apps próprios, como o Nexo e a Revista Piauí
  • Distribuição em canais diretos e menos saturados, como WhatsApp e Telegram
  • Criação de produtos de marca (branded products) que vão além da publicidade tradicional
  • Formatos educacionais e de utilidade pública, que constroem autoridade e relevância contínua

Outro movimento que vem ganhando força é o da reconstrução de comunidades em torno do conteúdo, em que o engajamento é mais importante que o volume de tráfego.

Publishers precisam repensar sua estratégia de sobrevivência digital

A dependência excessiva de plataformas como Google, Meta e TikTok criou uma armadilha perigosa: quando os algoritmos mudam, todo o modelo de audiência e receita desaba.

O futuro parece apontar para uma única direção: retomar o controle da distribuição e do relacionamento com a audiência.

Isso significa diversificar canais, valorizar a construção de comunidades, apostar em formatos proprietários e resgatar a identidade editorial como diferencial competitivo.

Mais do que produzir para agradar algoritmos, o desafio agora é voltar a produzir para pessoas, construindo vínculos reais e oferecendo valor além do clique.

Os publishers que entenderem essa virada e agirem rápido podem até sair mais fortes desse cenário.

Os que continuarem apostando todas as fichas nos velhos modelos, vão continuar perdendo espaço para robôs, creators oportunistas e respostas sem fonte.

Publicado por

Quim Pierotto

Quim Pierotto, profissional e entusiasta digital e líder "visionário", destaca-se no mundo dos negócios digitais com mais de duas décadas de experiência. Combinando expertise técnica e uma abordagem humanizada, impulsiona projetos ao sucesso. Apaixonado por tecnologia e resultados, Quim é um parceiro confiável em empreendimentos digitais, sempre à frente na busca por inovação.

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