Artigos gerados por IA já ultrapassaram a quantidade de textos escritos por humanos na web.
É o que mostra um novo estudo da Graphite, que analisou 65 mil artigos para entender a escala da produção automatizada e o que isso significa para publishers, marcas e criadores.
A conclusão chama atenção, mas o contexto é ainda mais importante para quem depende de busca e distribuição orgânica.
O que o estudo encontrou
Em novembro de 2024, a quantidade de artigos gerados por IA superou a de textos humanos publicados na web.
A curva de crescimento acelera a partir de novembro de 2022 (lançamento do ChatGPT).
Em 12 meses, os conteúdos feitos por IA já representavam 39% do total de publicações.
Mas há um freio: desde maio de 2024, a proporção de artigos feitos por IA estagnou.
O volume segue alto, porém sem ganho de participação.
A hipótese dos autores é direta: apesar da abundância, conteúdos gerados por IA não performam bem em busca e seriam pouco visíveis também em respostas de assistentes, segundo estudo paralelo citado.
Em outras palavras, muita produção, pouca descoberta.
Por que isso está acontecendo
Há três fatores combinados.
Escala e custo. Ferramentas de IA permitem publicar mais, em menos tempo, com custo marginal baixo. Para muitas empresas, é uma alternativa a “pagar centenas de dólares por artigo”.
Qualidade percebida. A qualidade de saídas melhorou. Em várias situações, um texto de IA “parece” tão bom quanto o humano. Em testes controlados, muitas pessoas têm dificuldade de distinguir quem escreveu.
Distribuição exige mais. Ranking no Google e captura de atenção nas redes dependem de diferenciação real. Quando todo mundo produz versões parecidas do mesmo assunto, falta originalidade, evidência e experiência e o algoritmo não recompensa.
Como os pesquisadores chegaram lá
O estudo parte do Common Crawl, um dos maiores arquivos públicos da web.
A equipe sorteou 65 mil URLs em inglês e aplicou filtros: presença de schema de artigo, mínimo de 100 palavras, janela de publicação entre jan/2020 e mai/2025, e tipologia “artigo” ou “lista” pelo classificador da Graphite.
Para detectar IA, o método seguiu o whitepaper de 2024 da própria Graphite: classificação por trechos de 500 palavras usando o detector da Surfer.
O artigo é rotulado “gerado por IA” quando mais de 50% do conteúdo do texto é considerado IA.
Como controle:
- Falso positivo (humanos marcados como IA): ao testar 15.894 artigos publicados antes de nov/2022, 4,2% foram rotulados como IA.
- Falso negativo (IA marcada como humana): com 6.009 textos gerados por GPT-4o sob instruções padronizadas, a Surfer acertou 99,4% (0,6% de erro).
Esses números dão confiabilidade operacional ao recorte. Ainda assim, os autores reconhecem limitações importantes.
Limites e pontos cegos
Conteúdo “IA + humano”. O estudo não avalia a prevalência de textos gerados por IA editados por humanos. É provável que essa categoria seja ainda mais comum — e, muitas vezes, a que de fato performa melhor.
Modelo e detector. A aferição do falso negativo considerou textos feitos com GPT-4o. Em outros modelos (ou mixes de modelos), a acurácia do detector pode variar.
Visibilidade vs. volume. O estudo mede produção, não audiência. Mesmo que a web publique mais peças de IA, isso não significa que os usuários estejam lendo essas peças na mesma proporção.
O que isso significa para publishers e marcas
A principal leitura é pragmática: produção massiva de IA não resolve distribuição. Se a proporção de IA parou de crescer mesmo com facilidade de geração, o freio está no retorno.
Para quem depende de Google, a lição é clara. O que rankeia com consistência tende a ter:
- Originalidade informacional, com dados próprios, insights de quem vive o tema e ângulos fora do óbvio.
- Sinais de experiência (E-E-A-T): autoria verificável, credenciais, fontes, exemplos reais, fotos próprias, tabelas e evidências.
- Atualização e utilidade, não só abrangência.
- Boas práticas técnicas (estrutura de títulos, schema, interlink, tempo de carregamento, acessibilidade).
Para marcas, a consequência é estratégica: usar IA para acelerar o trabalho humano, não para substituí-lo. A vantagem competitiva não está em publicar mil textos genéricos, e sim em produzir melhor, com contexto e propriedade.
Quando a IA faz sentido no conteúdo
Rascunho e brainstorming. Ótimo para mapear tópicos, listar perguntas do usuário e organizar um esqueleto inicial.
Normalização de tom e estilo. Bom para aplicar voice & tone consistente em escala, sem perder a mão humana na revisão.
Dados públicos e sumários. Funciona para contextualizar rapidamente, desde que haja checagem e complemento original.
Automação repetitiva. Útil em descrições de produto, FAQs e páginas com estrutura repetível, quando há dados de primeira parte para alimentar o modelo.
Em todos os casos, a pergunta-chave continua sendo: o que aqui só você pode dizer? Se a resposta for “nada”, a peça vira commodity de busca — e tende a não performar.
Como adaptar sua estratégia a partir de hoje
Reduza volume sem lastro. Se a pauta não traz dados, ângulo ou experiência, corte ou reprograme.
Adote o fluxo “IA-assistido por humano”. Use IA para rascunho, mas exija revisão editorial com checagem, inclusão de evidências, exemplos reais e assets próprios.
Invista em ativos proprietários. Pesquisas, bancos de dados, estudos de caso, entrevistas. Isso é o que o algoritmo não encontra em outro lugar.
Otimize para SERP e para gente. Estruture H2/H3, responda intenção de busca com clareza, melhore snippets e leitura mobile. Ao mesmo tempo, pense em retenção: hook forte, subtítulos úteis, listas objetivas e design limpo.
Diversifique distribuição. Não dependa só de Google. Conecte conteúdo a newsletter, comunidade, social vídeo e parcerias.
Mensure o que importa. Acompanhe tempo de leitura, retorno por autor/tema, posições na SERP por cluster, e não apenas volume publicado.
O que aprendemos com isso sobre “artigos gerados por IA”
A web já publica mais artigos de IA do que de humanos, mas isso não se traduz automaticamente em audiência.
O teto apareceu quando o mercado percebeu que escala sem diferenciação não sustenta SEO, e que algoritmos estão mais exigentes quanto a experiência, evidência e utilidade.
A saída não é abandonar IA. É colocar IA no lugar certo do fluxo, como aceleradora de quem tem algo único a dizer.
Quem combinar velocidade com propriedade intelectual vai continuar ganhando.
Referências
Graphite — “More Articles Are Now Created by AI Than Humans”.
Graphite — Whitepaper 2024 sobre detecção de IA em conteúdo.
Estudos citados pela Graphite: MIT (qualidade percebida) e Originality AI (distinção humano vs IA).