
Estive no Google Cloud Summit 2025 em São Paulo e a sensação é clara: a IA deixou de ser “projeto” e virou infraestrutura. O Brasil entrou no mapa estratégico do Google Cloud, com anúncios que reduzem latência, destravam compliance e levam casos reais para o palco.
Para quem opera negócios digitais aqui, isso significa sair do laboratório e escalar. Com custo mais previsível, dados em solo nacional e opções maduras de agentes corporativos.
As novidades que importam

TPU v6 Trillium na região de São Paulo
Pela primeira vez, a região do Google Cloud em SP vai hospedar a TPU v6 Trillium. Segundo o Google, essa geração entrega ~4× mais performance de pico, 3× mais throughput e +67% de eficiência energética em relação à anterior.
Na prática, modelos grandes treinam e inferem aqui, com custos e prazos mais controlados. É relevante para times que treinam LLMs, vision e multimodal sob restrições regulatórias e de privacidade.
Gemini 2.5 Flash com processamento e dados no Brasil
O Google anunciou processamento de ML no Brasil com Gemini 2.5 Flash no Vertex AI, a partir de novembro. Isso dá residência de dados e atende setores regulados. Para produtos que dependem de baixa latência e controle de dados, é um divisor de águas.
Se você hesitava por compliance, chegou a hora de tirar o plano da gaveta.
Veo 3 e Veo 3 Fast: vídeo vertical, 1080p e preço menor
A geração de vídeo com Veo 3 ganhou suporte nativo a vertical 9:16, saída 1080p e queda de preço agressiva. Veo 3 caiu para cerca de US$ 0,40/s e Veo 3 Fast para US$ 0,15/s.
Tradução para marketing e conteúdo: dá para testar mais, produzir assets para social com qualidade e manter orçamento sob controle.
Agentspace para agentes corporativos
O Google Agentspace é a “casa” dos agentes de IA na empresa. Você descobre, cria, governa e publica agentes com integração a dados e sistemas. A ideia é padronizar o ciclo de vida, dar governança e evitar a “farra do prompt” sem controle.
Para quem planeja copilots internos, workflows autônomos e knowledge ops, é o ambiente natural.
Setor público e nuvem soberana
No Summit, o Gemini passou a estar disponível na Nuvem de Governo do Serpro, operando em Google Distributed Cloud com ambientes isolados. É a peça que faltava para acelerar IA no setor público com requisitos de soberania e segurança.
Ecossistema e parcerias
O ecossistema local ganhou fôlego:
- Databricks agora disponível na região de São Paulo no Google Cloud, facilitando pipelines de dados e AI/ML com governança unificada.
- Oracle Database@Google Cloud chegará à região de SP nos próximos meses, reduzindo a fricção para quem roda Oracle e quer acoplar Gemini e BigQuery.
- ServiceNow expande oferta em infraestrutura soberana do Google Cloud, reforçando o stack corporativo de automação + IA.
Gente e formação: Capacita+ em 6 de dezembro
O Google Cloud quer treinar 200 mil pessoas em um único dia (formato híbrido), mirando 1 milhão na região. É um gesto concreto para reduzir o gargalo de talentos e acelerar a adoção de IA nas empresas.

Por que isso muda o jogo para empresas no Brasil
Latência e custo
Serviços e aceleradores no país significam menos latência e contas mais previsíveis — menos tráfego cross-region, mais SLA confiável e menos surpresas no fim do mês.
Compliance e soberania
Residência de dados e opções de nuvem soberana destravam projetos parados por jurídico e segurança. Você consegue provar controle de dados e manter logs e políticas locais.
Produção de conteúdo escalável
Com Veo 3 mais barato e mais rápido, fica viável escalar testes de criativos, explainers, demos e anúncios em 9:16 para Reels, Shorts e TikTok, mantendo padrões de marca.
Agentes com governança
Com Agentspace, dá para sair do shadow IT e adotar agentes padronizados, com catálogo, RBAC, observabilidade e ciclo de publicação. Isso evita ilhas e promove reuso.
Como se preparar agora
1) Avalie residência de dados por fluxo
Mapeie onde os dados nascem, onde são processados e onde ficam em repouso. Ajuste endpoints do Vertex AI para a região de SP quando habilitar o Gemini 2.5 Flash local. Documente o impacto no DPIA.
2) Provas de conceito com agentes
Escolha dois fluxos críticos (ex.: atendimento com retrieval, backoffice com automação de tarefas). Construa no Agentspace, defina metas de custo, qualidade e latência. Publique para um grupo-piloto e avance por ondas.
3) Pipeline de vídeo com Veo 3
Implemente um fluxo “brief → roteiro → geração → revisão → publicação”. Padronize prompts, adote templates 9:16 e meça CPL/CAC por variação criativa. Veo 3 Fast é ótimo para testing; migre para Veo 3 quando aprovar o corte final.
4) Dados prontos para IA
Se você usa Databricks ou BigQuery, organize camadas (raw → curated → semantic), catálogos e feature stores. Tenha linhagem e qualidade instrumentadas. Isso reduz drift e evita “respostas bonitas com dados ruins”.
5) Governança e custo
Crie guardrails: CMEK, quotas, políticas de PII, red teaming e observabilidade (telemetria de prompts, latência, cost per use case). Faça FinOps por caso de uso, não só por produto.
Casos que valem acompanhar
- Receita Federal acelerando inspeção de bagagens com Gemini e reduzindo tempo de liberação de encomendas.
- Casas Bahia usando IA do Google em busca, recomendação e eficiência operacional.
- Setor público avançando com Serpro em ambiente soberano.
- Parceiros como PwC lançando Experience Zones para acelerar projetos com Gemini e Vertex AI.
Google Cloud Summit 2025 sinaliza maturidade de infra de IA no Brasil.
Aceleração computacional local, IA com residência de dados, agentes governáveis e conteúdo em escala mudam o go-to-market.
Quem organizar dados, padronizar agentes e medir custo por caso de uso vai sair na frente. O cenário está pronto para produção, não só para pilot.